domingo, 13 de junho de 2010

Instituto de Arquitetura Avanzada de Catalunã





Hoje vou falar um pouco mais sobre a equipe espanhola do Instituto de Arquitetura Avanzada de Catalunã, apelidada carinhosamente de “Casa Amendoim”:

No dia 12, sábado, chegamos no canteiro do SDEurope e antes de entrar na Villa Solar já avistamos um dos módulos da equipe sendo alçado por um guindaste para encaixar na sua posição de projeto. Foi uma surpresa para todos, no dia anterior discutíamos se conseguiriam montar aquela estrutura tão peculiar, para não dizer outra coisa.

O Professor Kós até então tinha tido mais contato com essa equipe e havia nos passado algumas coisas sobre ela. Primeiro, que era uma equipe que quase não tinha espanhóis. Essa casa foi desenvolvida em uma disciplina que dura um ano, sendo assim, a maioria das pessoas que começou o projeto não eram aqueles que estavam hoje na Villa tendo que montá-la, outra peculiaridade é que os alunos são na maioria estrangeiros, é formada de gregos, japoneses, israelenses, mexicanos, americanos, em fim, uma miscelânea de nacionalidades, inclusive espanhóis, tendo como língua oficial de canteiro o inglês. Segundo é que os professores que coordenavam o canteiro eram bem jovens e de uma área mais teórica, o que fazia as operações de canteiro sempre muito complicadas, uma vez que nunca haviam montado a casa mais do que das fundações e que a mão de obra contratada não passava do operador do guindaste.

Chegando mais perto, no sábado, percebi que não tinham pessoas suficientes segurando uma das cordas que “guiava” a estrutura suspensa, então me prontifiquei a ajudar. Achei tudo muito locou, entendi na prática como a falta de experiência complica muito as coisas em uma canteiro de obras. A situação era a seguinte, a estrutura desta equipe é como se fossem costelas, cheia de seções, como se não bastasse, elas ainda eram dividida em duas partes no sentido horizontal (piso e cobertura). O que estava montado era toda a parte da estrutura inferior (piso), mas a primeira das 4 partes de cima (cobertura), que fecham o “amendoim”, estava sendo colocada naquele momento. Para isso eles precisavam levantar a parte com um guindaste, aproximá-la da estrutura, aparafusar um lado, para depois parafusar o outro. O caso é que ao parafusar um lado o outro não entrava. Para agravar, ao invés da equipe ter um planejamento e um mapa de ações, antevendo os possíveis problemas, ela teve que resolve-los “in loco”, com a peça balançando no guindaste.

Em quanto segurávamos um outro estudante alcançava a peça por meio de uma plataforma pantográfica, para tirar alguns ganchos que a grudavam em uma parte do guindaste e colocá-la em outro “plug”, mais acima do braço do guindaste. Nesse meio tempo, alguns estudantes da equipe tiravam fotos, outros comiam, outros, que estavam segurando a corda junto comigo, aproveitavam para dar uma fumada, com uma mão na corda e outra no cigarro. Aproveitei para conversar com o japonês que estava na minha frente, ele era responsável pelo sistema de fotovoltaicos da casa, perguntei como fariam com para encaixar os painéis naquela forma, ele me disse que tinha sido um desafio, mas que tinham conseguido usando uma célula da SumPower em um “corpo” maleável, algo bem inovador e muito interessante, vou falar um pouco mais sobre isso na frente.

Bem, a peça não encaixava de jeito algum e eu já estava um pouco cansado de ficar ali segurando a corda. Por fim a equipe resolveu colocar a peça de cobertura no chão para coordenar as ações, o plano seria parafusar o outro lado primeiro, não fiquei para ver, saí para dar uma volta na Villa. No final do dia, depois de ter visto as outras casa e já rumo a Casa do Brasil surpresa! A primeira parte da cobertura estava no lugar, uma vitória e tanto para equipe.

Ontem choveu o dia todo e só fomos na Villa de manhã, não havia muitos avanços na casa quando voltamos para a CB. Hoje foi diferente, um dos únicos dias sem chuva desde a nossa aterrissagem em Madri e quando chegamos a Villa todas as peças da cobertura já estava no lugar, é muito loca essa estrutura. Apesar da desorganização da equipe no canteiro e da falta de experiência na montagem eles haviam conseguido, quando muitos não acreditavam, inclusive eu, e está muito impressionante. Ainda continuo achando que não é uma casa nada competitiva e que vai ser uma das últimas na competição, mas com certeza é a que chama mais atenção, dá gosto de ver.

Sempre que chego no canteiro é a primeira casa que fico mais tempo observando e tirando fotos. Hoje quando fazia isso encontrei com um membro da organização do Solar Decathlon USA, seu nome é Byron. Pelo que eu entendi ele é o responsável pela parte de fotovoltaicos do SD USA. Perguntei para ele como ele achava que funcionava o sistema de painéis da equipe. Para quem não sabe, um sistema fotovoltaico é composto de ligações entre Painéis que são feitas algumas em série e outras em paralelo, os painéis ligados em série precisam estar voltados para uma mesmo orientação, no caso de se usar painéis da SunPower. Minha pergunta foi se ele sabia como eles tinham feito isso com uma casa de cobertura tão peculiar? Ele não sabia e em quanto discutíamos fomos abordados por um dos professores chefes da equipe. Quando ele soube quem era o Byron, logo o chamou para dar uma olhada nos painéis flexíveis da casa e eu fui na cola.

Primeiro ele disse que a casa foi inspirada nos princípios de Buckminster Fuller e que eles queria atingir a maior área interna com a menor envoltória, o que resultou naquela forma. Depois disse que no século XX “a forma seguia a função”, mas que no século XXI “a forma seguirá a energia”. Tudo isso para falar sobre os painéis fotovoltaicos. Falou que tinha sido difícil chegar naquela solução em conjunto com a SunPower, que primeiro tinha tentado uma empresa que se chama NanoSun, ou algo assim, mas que eles nunca tinham respondido os e-mails. Foi quando começaram a pensar em pegar uma célula fotovoltaica de um módulo da SunPower (SunPower 220) e colocá-lo em um “corpo” flexível, este “corpo” é como se fosse um plástico duro, no caso deles é preto, mas ele disse que também pode ser transparente. Não soube nos informar a eficiência do sistema, mas falou que são os painéis flexíveis mais eficientes que se tem notícia. Sobre aquela questão das ligações, ele disse que a curvatura da casa acontece somente no sentido norte/sul, mas que no sentido leste/oeste a cobertura é plana na parte onde vão os painéis, e que, portanto, as ligações em série acontecem sempre neste sentido (leste/oeste). A área total da cobertura de fotovoltaicos é aproximadamente 70m².

A casa é muito elevada do chão e se conecta a ele somente em três partes. Princípios do modernismo neste sentido, tentaram evitar a ocupação do solo usando essa área para o convívio das pessoas, mais ou menos como os pilotis do movimento moderno. Fiz essa analogia para o membro da equipe, mas não sei se ele gostou muito, hehehe, me pareceu coerente na hora. Outra coisa é que essa solução permite a circulação de vento entre a casa e o solo, ele também citou o fato de que todas as partes técnicas da casa ficam nestes “pés” que encostam no chão, o que faz com que não “roubem” espaço da área interna, facilitando também sua manutenção. A desvantagem é que a rampa para entrar na casa ficou gigante.

Nossa! Escrevi demais, nem sei se vai ter alguém que vai conseguir ler até o final, por isso não vou me alongar mais, só uma ultima coisa, palpites. Não me parece que os alemães estão tão hegemônicos desta vez, minhas apostas são: Aalto University da Finlandia, Ecole National Superieure darchitecture de Grenoble da França e Stuttgart University of Applied Sciences da Alemanha.

Abraço a todos!

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